
Moralidade ou Ética
(Tao Te King - Lao-Tse)
Quem vive nas profundezas do seu ser
nada sabe de virtuosidade
dele brotam espontaneamente
as íntimas forças da vida
Quem vive na superfície do seu agir
não pode fazer brotar as forças profundas.
Quem vive nos abismos de sua alma
ignora a moralidade do seu agir,
desconhece o que seja ego-agência
Quem vive na superfície de sua alma
age egoicamente, visando fins externos.
O amor impele ao agir,
mas não quer nada para si
A justiça impele ao agir
mas não age por ambição
A moral também impele ao agir,
e se não consegue oque quer,
recorre à violência.
Por isso oh! homem reconhece:
Quem não tem a visão do Tao (visão do todo, visão holística),
age por virtuosidade
age pela caridade.
Quem nem disto é capaz,
obedece a ritos e tradições,
mas a dependência de ritualismos,
é o ínfimo grau da moralidade,
é mesmo o início da decadência
quem julga poder substituir pela inteligência
a cultura do coração,
esse é um tolo.
Pelo que atente a isto:
o homem correto
age por uma lei interna
e não por mandamentos externos
Bebe as águas da fonte
e não dos canais
transcende estes
e vai sempre à origem daquela.
COMENTÁRIO DE H. ROHDEN
Através destas palavras se verifica que Lao-Tse, 6 séculos antes da era cristã, já atingira a sabedoria do Cristo, que a maioria dos cristãos não atingiu 20 séculos depois da proclamação do evangelho, confundir moralidade com ética, civilização com cultura, convenções sociais com convicção individual - tudo isto equivale a soletrar o abc da verdade na escola do ego, mas não é ingressar na Universidade Cósmica do Eu.
A verdadeira cultura sapiencial, como se vê, não obedece a nenhuma tabela evolutiva dependente do tempo e espaço; a verdadeira sabedoria nada tem que ver com as circunstâncias externas, ela age pela própria substância interna, cuja atuação pode, certamente, ser facilitada ou dificultada pelo ambiente, favorável ou desfavorável, mas não é causada nem impossibilitada pelas circunstâncias.
Há sublimes verticalidades no meio de vastas horizontalidades.
Existem blocos erráticos em planícies sem nenhuma afinidade.
A tendência de certas sociedades espiritualistas em quererem subordinar toda evolução do homem ao ambiente externo, não merece o nome de filosofia, no sentido de consciência da realidade; não passa de arranjos oportunistas para uso de principiantes.
Lao-Tse disse verdades que hoje em dia, 26 séculos mais tarde, não foram atingidas pelo grosso da humanidade.

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