Quem sou eu
07/02/2008
DEUS E HUXLEY
SER – Deus existe. Esse é o fato primordial. É com a condição de que possamos descobri-lo sozinhos, por experiência própria, que nós também existimos. A finalidade e o propósito de cada ser humano é o conhecimento unitivo de Deus.
Qual é a natureza da existência de Deus? A invocação na oração Pai Nosso nos responde: “pai nosso que estais no céu”. Deus existe e é nosso, imanente em cada ser sensível, a vida de todas as vidas, o espírito que anima cada alma. Mas isso não é tudo. Deus é também o Criador transcendente e Doador da Lei, o Pai que ama e, porque ama, também educa suas crianças. Finalmente, Deus está “no céu”. O que significa ser ele possuidor de um modo de ser incomensurável com o dos seres humanos em suas condições naturais, não-espiritualizadas. Sendo Deus nosso e imanente, está muito próximo de nós, mas, estando Ele também nos céu, a maioria de nós está muito distante Dele. É por meio da prece que os homens chegam ao conhecimento profundo de Deus. Mas uma vida de preces é também uma vida de mortificações, de morte do “eu”. E não poderia ser de outra forma, pois quanto mais espaço houver para o “eu”, menos haverá para Deus. Nosso orgulho, nossa ansiedade, nossa cobiça pelo poder e pelo prazer são coisas que encobrem Deus. Como também o ambicioso apego a certas criaturas, considerado muitas vezes uma ausência de egoísmo, mas que deveria ser chamado de não altruísmo, e sim de alter-egoísmo. Qualquer serviço de aparente auto-sacrifício prestado a qualquer causa ou ideal que se afaste do divino esconde um pouco Deus. Tal serviço é sempre idolatria e torna impossível o culto a Deus como deve ser, bem como seu conhecimento. O reino de Deus não pode aproximar-se, a menos que comecemos a afastar nossos reinos humanos. Não somente os reinos loucos e obviamente maléficos, como também os respeitáveis –os dos escribas e fariseus, dos bons cidadãos e pilares da sociedade, não menos do que os dos homens de negócios e pecadores. A existência de Deus não pode ser percebida por nós se optamos por prestar nossa atenção e oferecer nossa fidelidade a alguma outra coisa, por mais respeitável que essa coisa possa parecer aos olhos do mundo.
BELEZA – A beleza surge quando as partes de um todo estão relacionadas entre si e com a totalidade de forma que a apreendemos de maneira ordenada e significativa. Mas a origem primária da ordem é Deus, e Deus é o significado definitivo e mais profundo de tudo que existe. Deus, então, está manifesto no relacionamento que embeleza as coisas. Ele reside naquele adorável intervalo que harmoniza os eventos em todos os planos, onde descobrimos a beleza. Nós O apreendemos nas plenitudes e vazios alternados de uma catedral; nos espaços que separam as características proeminentes de um quadro; na geometria viva de uma flor, de uma concha do mar, de um animal; nas pausas e intervalos entre as notas musicais, em suas diferenças de tom e sonoridade; e, finalmente, no plano de conduta, no amor e gentileza, na confiança e na humildade que embelezam as relações entre os seres humanos.
Essa é, então, a beleza de Deus, como a apreendemos na esfera da criação. Mas é possível para nós também apreendê-la, pelo menos de alguma forma, pelo que realmente é. A visão beatífica da beleza divina é o conhecimento, por assim dizer, do Intervalo Puro, do harmonioso relacionamento, independente do que estiver relacionado. Uma feição material da beleza-em-si-mesma seria o entardecer do céu sem nuvens, que achamos inexprimivelmente belo, muito embora sem possuir qualquer arranjo preconcebido, pois não se distinguem nele quaisquer partes a serem harmonizadas. Nós o achamos belo porque é um emblema da Clara Luz Infinita do Vazio. Chegamos ao conhecimento desse intervalo puro somente quando tivermos aprendido a mortificar o apego às criaturas, e, acima de tudo, a nós mesmos.
A feiúra moral surge quando a auto-afirmação destrói o relacionamento harmonioso que deveria existir entre os seres sensíveis. Analogamente, a feiúra estética intelectual surge quando uma parte de um todo é excessiva ou deficiente. A ordem é perturbada, o significado distorcido, e, conseqüentemente, a relação divina entre coisas ou pensamentos é, então, substituída por uma relação errônea – um relacionamento que manifesta simbolicamente não a imanente e transcendente fonte de toda a beleza, mas a caótica desordem que caracteriza as criaturas quando tentam viver independentemente de Deus.
AMOR – Deus é Amor, e há momentos abençoados quando, mesmo aos seres humanos pecaminosos, é concedido conhecê-Lo como Amor. Mas é somente nos santos que este conhecimento se torna seguro e contínuo. Por quem ainda está nos primeiros estágios da vida espiritual, Deus é apreendido predominantemente como Lei. É por meio da obediência ao Deus doador da lei que finalmente chegamos a conhecer o Deus Pai Amantíssimo
A lei que devemos obedecer, se quisermos conhecer Deus como Amor, é, ela própria, uma lei de amor. “Tu amarás a Deus com toda tua alma, e com todo teu coração, com toda a tua mente e com toda a tua força. E tu amarás a teu próximo como a ti mesmo.” Não podemos amar a Deus como deveríamos a menos que amemos o próximo como devemos. Não podemos amar nosso próximo como deveríamos a menos que amemos Deus como devemos. E, finalmente, não podemos imaginar Deus como o princípio do amor ativo e Todo-Poderoso enquanto não tivermos aprendido a amá-lo e a nosso próximo.
A idolatria consiste em amarmos uma criatura mais do que amamos a Deus, há muitas espécies de idolatria, mas todas têm em comum a auto-estima. A presença da auto-estima é óbvia nas formas mais grosseiras de indulgência sensual ou na busca da riqueza, poder e glória. De forma menos aparente, mas não menos perniciosa, ela está presente em nossas desordenadas afeições por indivíduos, pessoas, lugares, coisas e instituições. E, mesmo nos mais heróicos sacrifícios dos homens por grandes causas e nobres ideais, a auto-estima tem seu trágico lugar. Pois quando nos sacrificamos por qualquer causa ou ideal que seja inferior ao mais elevado, menor do que o próprio Deus, estamos meramente sacrificando parte de nosso ser pecaminoso em prol de outra parte nossa, que nós mesmos e os outros consideram mais confiável. A auto-estima ainda persiste, ainda nos impede de obedecer perfeitamente ao primeiro dos dois grandes mandamentos. Deus só pode ser perfeitamente amado por aqueles que tenham eliminado as mais sutis e mais nobremente sublimadas formas de auto-estima. Quando isso acontece, quando amamos Deus como devemos e, portanto, quando identificamos Deus com Amor, o perturbador problema do mal deixa de ser relevante, e o mundo temporal é visto enquanto um aspecto da eternidade, de maneira inexpressiva, mas não menos real e segura, a conflitante e caótica multiplicidade da vida se reconcilia na unidade da toda caridade divina.
PAZ – Juntamente com o amor e a alegria, a paz é um dos frutos do espírito. Mas, também, uma das raízes. Em outras palavras, a paz é uma condição necessária da espiritualidade, tanto quanto seu resultado inevitável. Nas palavras de São Paulo, é a paz que mantém o coração e a mente no conhecimento e amor a Deus.
Entre a paz que é a raiz e a paz que é fruto do espírito, há, entretanto, profunda diferença na qualidade. A paz raiz é algo que todos conhecemos e compreendemos, algo que, se fizermos o esforço necessário, podemos atingir. Se não a atingirmos, jamais avançaremos realmente em nosso conhecimento e Amor a Deus, jamais captaremos algo além de rápido relance daquela outra paz, fruto da espiritualidade. A paz fruto é a que ultrapassa toda compreensão, e isso é porque é a paz de Deus. Só aqueles que se tornam de alguma forma semelhantes a Deus podem esperar experimentar essa paz em sua plenitude duradoura. Inevitavelmente. No mundo das realidades espirituais, o conhecimento é sempre uma função do ser, a natureza do que experimentamos é determinada pelo que somos.
Nos primeiros estágios da vida espiritual, estamos preocupados quase exclusivamente com a paz raiz e com as virtudes morais que a fazem brotar, e os vícios e fraquezas que reprimem seu crescimento. A paz interior tem muitos inimigos. No plano moral encontramos, de um lado, a cólera, a impaciência e toda espécie de violência; e, de outro lado (pois a paz é essencialmente ativa e criativa), toda espécie de inércia e indolência. No plano do sentimento, os grandes inimigos da paz são o pesar, o medo, a ansiedade e toda formidável hoste de emoções negativas. No plano do intelecto encontramos as tolas abstrações e a devassidão da curiosidade negligente. A conquistas desses inimigos, é processo bastante trabalhoso e muitas vezes doloroso, que exige incessante mortificação das tendências naturais e de quase todos hábitos humanos. Por essa razão, em nosso mundo existe tão pouca paz interior entre os indivíduos e tão pouca paz exterior entre as sociedades. Nas palavras de Imitação: “Todos os homens desejam a paz, mas poucos, na verdade, desejam as coisas que a propiciam.”
SANTIDADE (Holiness) – Whole, hale, holy (completo, vigoroso, sagrado), as três palavras derivam da mesma raiz. Etimológicamente, como de fato, santidade é saúde espiritual, e saúde significa totalidade, integridade e perfeição. A santidade de Deus é o mesmo que sua unidade; e um homem é santo na proporção que se torne sincero, imparcial e perfeito como nosso Pai, no céu, é perfeito.
Por possuirmos somente um corpo, tendemos a acreditar que somos um ser. Mas, na realidade, nosso nome é legião. Em nossa condição ainda pecaminosa, somos seres divididos, com meio coração e mente dupla, criaturas com muitos temperamentos e múltiplas personalidades. E não somos divididos somente com relação a nossa condição pecaminosa; também somos incompletos. Assim como nossa alma múltipla, possuímos um espírito que é uno com o espírito universal. Potencialmente ( pois em sua condição normal ele não sabe quem é), o homem é muito mais que imagina ser. Ele não pode alcançar sua totalidade, a menos que, e quando, se dê conta de sua verdadeira natureza, descubra e libere o espírito que está dentro de sua alma e, dessa forma, se una a Deus.
A não-santidade se manifesta quando permitimos qualquer rebelião ou auto-afirmação de qualquer parte de nosso ser contra aquela totalidade que só nos é permitida por intermédio da união com Deus. Por exemplo, há a não-santidade da sensualidade indulgente, da avareza descontrolada, da inveja, da cólera, da devassidão, do orgulho e ambição mundanos. Mesmo a sensualidade negativa da doença pode constituir-se em ausência de santidade (profanidade) se permitimos que a mente se atenha aos sofrimentos do corpo mais do que absolutamente necessário ou inevitável. No plano do intelecto, há a tola profanidade das desatenções e a forte falta de santidade da curiosidade sobre coisas a respeito das quais não temos qualquer poder de ação construtiva ou terapêutica.
Do nosso estado natural de imperfeição até a saúde e perfeição espirituais, não existe qualquer atalho mágico. O caminho para a santidade é trabalhoso e longo. Ele se desenvolve por meio da vigilância e de prece, mediante contínua defesa do coração, da mente, da vontade e da língua, bem como pela atenção unidirecionada para Deus.
GRAÇA – As graças são dádivas de auxílio concedidas por Deus a cada um de nós, a fim de que possamos ser assistidos para alcançar nosso objetivo e propósito: o conhecimento unitivo da realidade divina. Tais auxílios são muito raramente tão extraordinários que imediatamente nos conscientizamos de sua verdadeira natureza provinda de Deus. Na grande maioria dos casos, elas são tecidas tão imperceptivelmente na textura da vida comum que não as identificamos como graças, a não ser e até que acolhamos devidamente, recebendo, assim, os benefícios materiais, morais ou espirituais que elas nos trazem. Se não as acolhemos apropriadamente, não recebemos qualquer benefício e permanecemos ignorantes de sua natureza ou mesmo de sua existência. A graça é sempre suficiente, desde que estejamos prontos a cooperar com ela. Se falhamos em fazer nossa parte, preferindo confiar em nossa obstinação e intuição, não recebemos qualquer ajuda das graças que nos são concedidas e, na verdade, impedimos que novas graças nos sejam concedidas. Quando exercida com persistência, a obstinação cria um universo particular impenetravelmente emparedado para a luz da realidade espiritual; e, dentro desses universos particulares, o obstinado prossegue em seu caminho, desamparado e hesitante, de acidente em acidente ou de maldade em maldade. É sobre isso que fala são Francisco de Sales ao dizer que “ Deus não te privou da operação do Seu Amor, mas tu privaste o Seu Amor de tua cooperação. Deus nunca teria te rejeitado se tu não O tivesses rejeitado”.
A orientação quanto à clara e constante consciência do divino só é revelada àqueles que estão muito avançados na vida espiritual. Nos estágios iniciais temos que trabalhar não pela percepção direta das sucessivas graças de Deus, mas pela fé em sua existência. Temos que aceitar como hipótese de trabalho que os acontecimentos de nossas vidas não são meramente fortuitos, mas testes deliberados de inteligência e caráter, ocasiões especialmente tramadas( se adequadamente usadas) para o crescimento espiritual. Agindo de acordo com essa hipótese de trabalho, não trataremos nenhuma ocorrência com intrinsecamente sem importância. Nunca daremos uma resposta sem fundamento ou que seja mera expressão automática de nossa obstinação, mas sempre nos daremos tempo antes de agir ou falar, para considerar qual comportamento estaria mais de acordo com a vontade de Deus, qual seria mais caridoso, mais adequado para alcançar nossos objetivo final. Quando tal atitude se torna nossa resposta habitual aos eventos, que pelo menos algumas dessas ocorrências seriam graças divinas disfarçadas algumas vezes em trivialidades, inconveniências ou mesmo sofrimentos e acusações. Mas se não conseguirmos trabalhar com a hipótese de que a Graça de fato existe, essa Graça será, com efeito, inexistente no que nos disser respeito. Provaremos, por uma via de casualidades, na melhor das hipóteses, ou, na pior delas, a maldade absoluta, que Deus não auxilia os seres humanos, a não ser que eles próprios autorizem.
ALEGRIA – Paz, amor, alegria – de acordo com São Paulo, esses são os três frutos do espírito. Correspondem muito intimamente, aos três atributos essenciais de Deus, como resumidos na fórmula indiana sat, chit, ananda – existência, conhecimento e bem-aventurança. A paz é a manifestação do ser unificado. O amor é a exteriorização do conhecimento divino. E a bem-aventurança, o correspondente à perfeição, é idêntica à alegria.
Como a paz, a alegria não é somente fruto do espírito, mas, também, sua raiz. Se quisermos conhecer Deus, devemos fazer tudo para cultivar o equivalente mínimo da alegria que nos é possível sentir e expressar.
“Preguiça” é a tradução comum de acedia, que se situa entre os sete pecados mortais da nossa tradição ocidental. É tradução inadequada, pois acedia é mais do que preguiça; significando também depressão e autocomiseração, bem como aquela profunda exaustão do mundo que faz com que fiquemos, nas palavras de Dante, “tristes no doce ar que se regozija ao sol”. Lamentar-se, resmungar, sentir pena de si mesmo, desesperar-se – essas são manifestações da nossa vontade e de rebelião contra a vontade de Deus. E aquele especial e característico desestímulo que experimentamos devido à lentidão de nosso avanço espiritual – que mais é do que um sintoma de nossa vaidade ferida, um tributo pago à alta opinião que temos de nossos próprios méritos?
Estamos contentes quando as circunstâncias são depressivas ou quando somos tentados a cair em autocomiseração, é uma verdadeira mortificação – mortificação muito valiosa por ser tão imperceptível, tão difícil de ser identificada. Austeridades físicas, mesmo as mais suaves, dificilmente podem ser praticadas sem atrair a atenção dos outros; e, por despertar a atenção, aqueles que a praticam são sempre tentados a se envaidecer de seu desprendimento. Contudo, tais mortificações, como abstenção de conversas inúteis, da curiosidade imoral acerca de coisas que não nos dizem respeito e, acima de tudo, da depressão e da autocomiseração, podem ser praticadas sem que ninguém se dê conta. Estarmos sempre alegres pode custar-nos mais esforço do que, por exemplo, sermos constantemente moderados. Embora as pessoas, em geral, nos admirem por refrearmos nossas necessidades de atividades físicas, elas provavelmente atribuirão nossa alegria à nossa boa digestão ou a uma insensibilidade inata. Das raízes de tal segredo e do desprezo de auto-rejeições, surge a árvore cujos frutos são a paz que transmite toda compreensão, o amor de Deus e de todas criaturas pela graça divina, e a alegria da perfeição, da bem-aventurança de eterna e infinita realização.
(Aldous Huxley – autor de “O Admirável Mundo Novo”)
PS.: Aldous Huxley era ateu até metade de sua vida.
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