
Natália estava numa idade que, graças aos santos hormônios, não era mais vítima de sua sexualidade. Podia viver com calma, sem sentir aquela angustiante necessidade de homem. Apreciava cada vez mais a própria companhia, a de bons amigos, a de um bom livro. Mas não estava morta para os prazeres da carne – apenas tinha ficado mais exigente. Muito mais exigente. Seus cinco sentidos estavam apuradíssimos: passar por sua avaliação era como receber um selo de qualidade.
Só ia a restaurantes que tinham um chef de renome – não via a menor graça em engordar com calorias sem assinatura. Só bebia vinhos de safras especiais ou de reservas preciosas. Caso contrário preferia beber água. Se não tinha dinheiro para pagar uma classe executiva, achava que viajar não valia a pena: não suportava a idéia de ficar enlatada por 12 horas no desconforto de uma econômica. Se não podia ficar num hotel charmosíssimo, não abandonava o conforto do seu quarto e seus travesseiros de pluma. Não era rica, apenas gostava de tudo o que era bom. Não comprava roupa fubá, móveis baratos, nem objetos inúteis, a não ser que fosse obras de arte. Não trazia “lembrancinhas de viagem”, Tinha pouco, mas o que tinha era de grife. Estava cada vez mais simples e mais chique. Sua filosofia era: o melhor ou nada!
Seu único problema era aplicar esta norma aos relacionamentos. Um homem que gostasse exatamente do que ela gostava e que tivesse qualidades que ela prezava só poderia ser um gay. Não precisava ser especialista para saber que homem que é homem mesmo não liga a mínima para quantos fios tem o lençol. Além disso, quando o assunto era sexo, Natália contrariava todas as expectativas: ela gostava mesmo do que havia de mais baixo, chulo e barato. Seu sonho de consumo era um homem que fosse um gentleman de dia e um marinheiro do cais do porto à noite. Um homem daqueles bem cafajestes, que rasgam sem culpa nem piedade a sua langerie de seda pura, mas que sabe de que século é o lustre de cristal que ilumina a cena. Seu homem ideal teria de ter cara de poeta do século 19, dorso de estivador, gosto de curador de arte, paladar de chef francês,, mãos de pianista, olhos de garça, cabelos de anjo, bunda de surfista, barriga de estátua grega e um gosto por sexo selvagem.
Seus amigos gays diziam que o que ela procurava era um Frankenstein. Era mais fácil achar uma agulha num palheiro, do que encontrar todas aquelas características num homem só. Mas como Natália não tinha pressa e nem estava a perigo, seguiu procurando. Estava vivendo de beleza, arte e sexo solitário quando, numa feira de antiguidades, disputou com outra mão um vaso de murano. Ao olhar para cima, deparou com um tipo interessantíssimo. Depois de decidirem que a peça não era tão valiosa assim, seguiram conversando. Foram tomar um café, depois resolveram almoçar e já lá se vão 8 meses sem que consigam desgrudar um do outro.
O homem perfeito é cearense, neto de avós negros, mãe índia e pai holandês. É moreno, alto, com um olho azul e outro verde, e um cabelo meio rastafári, meio louro. Usa roupas com um clima étnico, fala um português de Portugal com certo sotaque francês, tem um sorriso lindo, é bem-educado e extremamente elegante. Trabalhou anos como mordomo de uma família de diplomatas e conheceu o mundo. É culto, tem um bom gosto absurdo e, pasmem, não é gay. Na cama é insaciável: Natália está até fazendo um certo esforço para acompanhar o vigor do homem. Mas o mais extraordinário de tudo foi a precisão com que o universo atendeu ao seu pedido. O nome de batismo de seu novo marido é Frank. Acredite se quiser...